INTRODUÇÃO
Este
trabalho, proposto pelo Professor Amarildo Redies aos alunos do Curso de Letras, tem o objetivo de avaliar e colocar em prática os
conhecimentos adquiridos acerca da teoria literária. A cada aluno foi incumbido
escolher um soneto para, a partir dele, ser feita a análise literária quanto à métrica,
rima, ritmo, sendo vedada a duplicidade de escolha.
Para
compor esta análise, a qual irá complementar a primeira nota bimestral dos
acadêmicos, foi escolhido um soneto do Modernista Carlos Drummond de Andrade,
intitulado Oficina Irritada. Publicado
no ano de 1951 no seu livro Claro Enigma,
o poema é uma crítica ao modo de compor dos poetas parnasianos.
Vale
mencionar que o Modernismo foi a primeira escola literária genuinamente
brasileira e, regra geral, os poetas buscavam a autenticidade, primando pela
não adoção de modelos. Conquanto, Drummond, ao criticar a rigidez e a
imobilidade dos parnasianos, escreve um soneto em versos decassílabos. Só um
grade poeta e literato, ao realizar uma crítica, não a faz simplesmente pela
crítica: Drummond demonstra (e, de antemão, defende-se) que, apesar de ser
capaz de compor uma poesia ao estilo clássico, padronizada, perfeita quanto à
forma do ponto de vista dos mais conservadores, não o faz porque para ele uma
poesia seca e vazia simplesmente não tem valor.
PARTE I: POESIA
Oficina
Irritada
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
PARTE
II: ANÁLISE
1ª ESTROFE ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
RITMO DAS RIMAS
Eu |que|ro |com|por |um |so|ne|to |du|ro ::::::::::::::::::::::::::::::
Heroico (A)
1 2 3
4 5 6
7 8 9 10
co|mo |po|e|ta al|gum |ou|sa|ra es|cre|ver. :::::::::::::::::::::::::: Ambíguo (B)
co|mo |po|e|ta al|gum |ou|sa|ra es|cre|ver. :::::::::::::::::::::::::: Ambíguo (B)
1 2 3
4 5 6
7 8 9
10
Eu |que|ro |pin||tar |um |so|ne|to es|cu|ro, :::::::::::::::::::::::::::: Heroico (A)
Eu |que|ro |pin||tar |um |so|ne|to es|cu|ro, :::::::::::::::::::::::::::: Heroico (A)
1 2 3
4 5 6
7 8 9
10
se|co, a|ba|fa|do, |di|fí|cil |de |ler. ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: Provençal (B)
se|co, a|ba|fa|do, |di|fí|cil |de |ler. ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: Provençal (B)
1 2 3
4 5 6
7 8 9
10
Quanto
à sequência das rimas: Alternadas
Quanto
à qualidade das rimas:
(A) Duro/
Escuro (adjetivos) è rima
pobre
(B) Escrever/
Ler (verbos) è
rima pobre
Quanto
à quantidade de sons que rimam:
(A) Duro/
Escuro è
completas
(B) Escrever/ Ler è completas
2ª ESTROFE
::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: RITMO DAS RIMAS
Que|ro |que |meu |so|ne|to,
|no |fu|tu|ro,
:::::::::::::::::::::::::::: Heroico (A)
1 2 3
4 5 6
7 8 9 10
não |des|per|te em |nin|guém |ne|nhum |pra|zer. :::::::::::::: Heroico (B)
não |des|per|te em |nin|guém |ne|nhum |pra|zer. :::::::::::::: Heroico (B)
1 2 3
4 5 6
7 8 9
10
E |que|, no |seu |ma|lig|no |ar i|ma|tu|ro, :::::::::::::::::::::::::::: Heroico (A)
E |que|, no |seu |ma|lig|no |ar i|ma|tu|ro, :::::::::::::::::::::::::::: Heroico (A)
1 2 3
4 5 6
7 8 9 10
ao| mes|mo |tem|po| sai|ba |ser, |não |ser. :::::::::::::::::::::::: Ambíguo (B)
ao| mes|mo |tem|po| sai|ba |ser, |não |ser. :::::::::::::::::::::::: Ambíguo (B)
1 2
3 4 5
6 7 8
9 10
Quanto
à sequência das rimas: Alternadas
Quanto
à qualidade das rimas:
(A) Futuro
/ Imaturo (substantivo x adjetivo) è
rima rica
(B) Prazer
/ Ser (substantivo x verbo) è
rima rica
Quanto
à quantidade dos sons que rimam:
(A) Futuro
/ Imaturo è
completas
(B) Prazer
/ Ser è
completas
3ª e
4ª ESTROFES ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: RITMO DAS RIMAS
E|sse |meu| ver|bo
an|ti|pá|ti|co e im|pu|ro ::::::::::::::::::::::
Provençal (A)
1 2 3
4 5 6
7 8 9
10
há |de |pun|gir,| há |de |fa|zer |so|frer, ::::::::::::::::::::::::::::: Sáfico (B)
há |de |pun|gir,| há |de |fa|zer |so|frer, ::::::::::::::::::::::::::::: Sáfico (B)
1 2 3
4 5 6
7 8 9
10
Ten|dão |de |Vê|nus
|sob |o |pe|di|cu|ro. :::::::::::::::::::::::::: Heroico
(A)
1 2
3 4 5
6 7 8
9 10
Nin|guém |o| lem|bra|rá: ti|ro |no| mu|ro,
::::::::::::::::::::::::::: Heroico/Provençal
(A)
1 2
3 4 5
6 7 8
9 10
cão |mi|jan|do |no| caos|, en|quan|to Arc|tu|ro, ::::::::::::::::: Heroico (A)
cão |mi|jan|do |no| caos|, en|quan|to Arc|tu|ro, ::::::::::::::::: Heroico (A)
1 2 3
4 5 6 7 8 9 10
cla|ro e|nig|ma, |se| dei|xa |sur|pre|en|der. ::::::::::::::::::::::: Heroico (B)
cla|ro e|nig|ma, |se| dei|xa |sur|pre|en|der. ::::::::::::::::::::::: Heroico (B)
1 2 3
4 5 6
7 8 9
10
Quanto
à sequência das rimas: 3ª estrofe: alternadas
4ª
estrofe: outra combinação
Quanto
à qualidade das rimas:
(A) Impuro
/ Pedicuro (adjetivo X substantivo) è
rima rica
(B) Sofrer
/ Surpreender (verbos) è
rima pobre
(A) Muro
/ Arcturo è
rima rara
Quanto
à quantidade de sons que rimam:
(A) Impuro
/ Pedicuro è
completas
(B) Sofrer
/ Surpreender (verbos) è
completas
(A) Muro
/ Arcturo è
completas
CONCLUSÃO
Este poema pode ser considerado
bastante tradicional se levarmos em consideração quem o escreveu. Embora faça
parte do Modernismo e tenha a crítica como objetivo, nas duas primeiras
estrofes pode-se observar a predominância de rimas alternadas nas três
primeiras estrofes. Apenas na última estrofe o poeta adota outro sequência
rímica, sendo também a única estrofe contendo um verso que fugiu do ritmo.
Dos quatorze versos, nove são
somente heroicos; dois ambíguos (contendo ritmo sáfico e heroico
simultaneamente), um verso possui ritmo heroico e provençal e dois versos têm
apenas ritmo provençal (relativamente difícil de se encontrar).
De forma geral, pode-se dizer que
estamos diante de um soneto tradicional com a predominância de versos decassílabos
que obedecem a um ritmo e a uma sequência rímica com o objetivo de criticar
este tipo de arte.
REFERÊNCIAS:
ANDRADE,
Carlos Drummond. Poesia Irritada. Disponível em: .
Acesso em: 04 abr. 2012.
REDIES,
Amarildo. Teoria da Literatura. [Foz
do Iguaçu]: [s.n.], 2012. Apostila. 11 p.
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