domingo, 27 de maio de 2012

Oficina Irritada

Postando um trabalhinho que adorei fazer na faculdade...

INTRODUÇÃO

            Este trabalho, proposto pelo Professor Amarildo Redies aos alunos do Curso de Letras, tem o objetivo de avaliar e colocar em prática os conhecimentos adquiridos acerca da teoria literária. A cada aluno foi incumbido escolher um soneto para, a partir dele, ser feita a análise literária quanto à métrica, rima, ritmo, sendo vedada a duplicidade de escolha.
            Para compor esta análise, a qual irá complementar a primeira nota bimestral dos acadêmicos, foi escolhido um soneto do Modernista Carlos Drummond de Andrade, intitulado Oficina Irritada. Publicado no ano de 1951 no seu livro Claro Enigma, o poema é uma crítica ao modo de compor dos poetas parnasianos.
            Vale mencionar que o Modernismo foi a primeira escola literária genuinamente brasileira e, regra geral, os poetas buscavam a autenticidade, primando pela não adoção de modelos. Conquanto, Drummond, ao criticar a rigidez e a imobilidade dos parnasianos, escreve um soneto em versos decassílabos. Só um grade poeta e literato, ao realizar uma crítica, não a faz simplesmente pela crítica: Drummond demonstra (e, de antemão, defende-se) que, apesar de ser capaz de compor uma poesia ao estilo clássico, padronizada, perfeita quanto à forma do ponto de vista dos mais conservadores, não o faz porque para ele uma poesia seca e vazia simplesmente não tem valor.


PARTE I: POESIA

Oficina Irritada

Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.

PARTE II: ANÁLISE

1ª ESTROFE :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: RITMO DAS RIMAS
Eu |que|ro |com|por |um |so|ne|to |du|ro :::::::::::::::::::::::::::::: Heroico (A)
1      2    3   4       5     6    7   8   9  10
co|mo |po|e|ta al|gum |ou|sa|ra es|cre|ver. :::::::::::::::::::::::::: Ambíguo (B)
1    2     3  4   5     6       7  8     9     10
Eu |que|ro |pin||tar |um |so|ne|to es|cu|ro, :::::::::::::::::::::::::::: Heroico (A)
1      2    3   4      5    6     7   8    9    10
se|co, a|ba|fa|do, |di||cil |de |ler. ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: Provençal (B)
1      2    3   4  5   6   7   8   9   10   

Quanto à sequência das rimas: Alternadas
Quanto à qualidade das rimas:
(A) Duro/ Escuro (adjetivos) è rima pobre
(B) Escrever/ Ler (verbos) è rima pobre
Quanto à quantidade de sons que rimam:
(A) Duro/ Escuro è completas
(B)  Escrever/ Ler è completas

2ª ESTROFE ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: RITMO DAS RIMAS
Que|ro |que |meu |so|ne|to, |no |fu|tu|ro, :::::::::::::::::::::::::::: Heroico (A)
1       2   3       4     5   6   7    8    9  10
não |des|per|te em |nin|guém |ne|nhum |pra|zer. :::::::::::::: Heroico (B)
1       2     3      4       5     6       7      8       9    10
E |que|, no |seu |ma|lig|no |ar i|ma|tu|ro, :::::::::::::::::::::::::::: Heroico (A)
1    2      3    4     5     6   7     8   9   10
ao| mes|mo |tem|po| sai|ba |ser, |não |ser. :::::::::::::::::::::::: Ambíguo (B)
 1      2    3     4     5    6    7    8      9     10

Quanto à sequência das rimas: Alternadas
Quanto à qualidade das rimas:
(A) Futuro / Imaturo (substantivo x adjetivo) è rima rica
(B) Prazer / Ser (substantivo x verbo) è rima rica
Quanto à quantidade dos sons que rimam:
(A) Futuro / Imaturo è completas
(B) Prazer / Ser è completas

3ª e 4ª ESTROFES ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: RITMO DAS RIMAS
E|sse |meu| ver|bo an|ti||ti|co e im|pu|ro :::::::::::::::::::::: Provençal (A)
1   2     3      4        5   6  7  8      9     10
há |de |pun|gir,| há |de |fa|zer |so|frer, ::::::::::::::::::::::::::::: Sáfico (B)
1     2    3     4     5    6    7   8    9    10
Ten|dão |de ||nus |sob |o |pe|di|cu|ro. :::::::::::::::::::::::::: Heroico (A)
 1       2    3    4   5       6    7  8  9   10
Nin|guém |o| lem|bra|: ti|ro |no| mu|ro, ::::::::::::::::::::::::::: Heroico/Provençal (A)
1         2     3    4    5    6  7  8    9   10
cão |mi|jan|do |no| caos|, en|quan|to Arc|tu|ro, ::::::::::::::::: Heroico (A)
1       2   3     4   5     6       7     8        9     10
cla|ro e|nig|ma, |se| dei|xa |sur|pre|en|der. ::::::::::::::::::::::: Heroico (B)
1      2    3     4     5    6    7   8    9   10


Quanto à sequência das rimas: 3ª estrofe: alternadas
                                                           4ª estrofe: outra combinação
Quanto à qualidade das rimas:
(A) Impuro / Pedicuro (adjetivo X substantivo) è rima rica
(B) Sofrer / Surpreender (verbos) è rima pobre
(A) Muro / Arcturo è rima rara
Quanto à quantidade de sons que rimam:
(A) Impuro / Pedicuro è completas
(B) Sofrer / Surpreender (verbos) è completas
(A) Muro / Arcturo è completas


CONCLUSÃO

            Este poema pode ser considerado bastante tradicional se levarmos em consideração quem o escreveu. Embora faça parte do Modernismo e tenha a crítica como objetivo, nas duas primeiras estrofes pode-se observar a predominância de rimas alternadas nas três primeiras estrofes. Apenas na última estrofe o poeta adota outro sequência rímica, sendo também a única estrofe contendo um verso que fugiu do ritmo.
            Dos quatorze versos, nove são somente heroicos; dois ambíguos (contendo ritmo sáfico e heroico simultaneamente), um verso possui ritmo heroico e provençal e dois versos têm apenas ritmo provençal (relativamente difícil de se encontrar). 
              De forma geral, pode-se dizer que estamos diante de um soneto tradicional com a predominância de versos decassílabos que obedecem a um ritmo e a uma sequência rímica com o objetivo de criticar este tipo de arte.

REFERÊNCIAS:

ANDRADE, Carlos Drummond. Poesia Irritada. Disponível em: . Acesso em: 04 abr. 2012.

REDIES, Amarildo. Teoria da Literatura. [Foz do Iguaçu]: [s.n.], 2012. Apostila. 11 p.  

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